MEMÓRIA GOURMET




Vitinho hoje homem formado, casado com Denise, um filho lindo e outro em andamento, criou junto com meu filho Serginho, Andre, Ílan e Rochester a Banda SANA (memória refrescada pelo Vitin por e-mail...rsrsr) quando eram adolescentes e ensaiavam no meio da minha sala nas tardes de Domingo, mas o texto dele é o motivo deste post, então... Outra hora eu conto esta experiência enriquecedora que tive na vida.

Publicação: Revista Vitória Gourmet
Charge: Zota

Sempre tive dificuldade em escolher lugares para sair e comer com a minha esposa. Como iria imaginar onde levá-la para jantar no dia do nosso aniversário de casamento? E no dia dos namorados? A minha memória-gourmet sempre falhava na hora H (só a memória gourmet, por favor), mas felizmente essa revista veio salvar a minha vida (e o meu casamento). Dispor facilmente de uma relação de restaurantes e respectivos cardápios foi um incentivo para dar mais valor a esse tipo de lazer. Eu nunca tinha dado muita importância para comida; na infância, só descia o básico mesmo e olhe lá. Mas depois os episódios de hipoglicemia me forçaram a mudar os hábitos para melhor, e acabei gostando de comer. De comer bem, e daí também surgiu a vontade de aprender a cozinhar: me atirei a fazer um curso de Comidas Caseiras, já que meus conhecimentos anteriores se restringiam ao brigadeiro e à água fervente. Usei até toquinha no curso, evidentemente sem permitir que tirassem fotos para a posteridade. Fiquei ridículo, mas a causa era nobre. Pena que ainda não coloquei em prática o que aprendi nas aulas.

Percebo que essa onda de gastronomia não é privilégio meu, e sim globalizada; cada vez mais os capixabas descobrem os prazeres da culinária, como em outros lugares do Brasil e do mundo. Hoje em dia até os edifícios novos tem varanda-gourmet, espaço-gourmet, tudo para se divertir comendo. E engordando. A culinária é também um indicador de que a pessoa gostou ou não de uma viagem; as atrações turísticas podem ser sensacionais, mas se a comida não for boa.. já era. E se rolar algum conflito intestinal, aí que o passeio fica marcado eternamente, o local visitado para sempre será associado à comida. A lembrança é maldita, a memória seletiva também é gourmet. Um outro exemplo de memória seletiva gourmet é a minha tia, a maravilhosa Tia Maristela, que desconhecendo a minha ojeriza por azeitonas nos fez um belo strogonoff na sua casa em Guarapari.. recheado de azeitonas. Da preta, que tenho mais repúdio ainda. É inevitável encontrar com ela e não enxergar uma grande azeitona na minha frente.

Certa vez, numa temporada de mochileiro na Itália, fomos convidados, minha esposa e eu, a um jantar na casa da dona da escola onde estudávamos a língua italiana. A Rossana era uma paraguaia radicada em Bologna há anos, e se preocupava em ambientar seus alunos aos prazeres da cozinha italiana. Neste jantar, além do italiano Luca, marido da Rossana, tínhamos colegas espanhóis, romenos, russos, alemães e australianos. A comida estava muito boa, servida de acordo com os costumes italianos, em etapas sucessivas: antipasto, primo piatto, secondo piatto, contorni e dessert. Como não conhecia esse procedimento, na etapa número dois eu já estava completamente satisfeito, mas ainda bem, pois no secondo piatto nos deparamos com vários pelos na comida. Certamente eram do protagonista do evento, que zanzava de colo em colo: o Tony, um cachorro feioso e peludo, acho que paraguaio também. Algumas semanas depois, a Rossana nos presenteou com um belíssimo bolo de chocolate. Fizemos então um almoço junto com as outras pessoas que moravam conosco (um espanhol, uma belga e uma russa, muito bacanas). Na mesa: massas, salada de verduras, salada de línguas, e na sobremesa comemos o tal bolo de chocolate, com sorvete. Adivinha com quem nos deparamos? Quem, quem? Com os magníficos pelos do Tony!! Ficou difícil não associar o Paraguai a pelos na comida.

Vítor Schuwartz Rocha, 12/08/2010

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